Os Gigantes Que Brilham: Analisando os Campeões de Lucros Positivos no 3T dos Maiores Bancos

14/11/2025

Por: Adriano Gadelha

A divulgação dos resultados do terceiro trimestre (3T) dos grandes bancos é sempre um termômetro crucial para a saúde do setor financeiro e, por extensão, da economia como um todo. Em um cenário global e doméstico de incertezas, altas taxas de juros, inflação e desafios geopolíticos, a capacidade de gerar lucros robustos é um indicativo da solidez, resiliência e adaptabilidade das instituições. Neste artigo, faremos um mergulho aprofundado nos dados recém-divulgados, identificando os “campeões” de lucros positivos e explorando os fatores que impulsionaram seus desempenhos.

O Cenário Macroeconômico e o Desempenho Bancário

 

Para entender os resultados do 3T, é fundamental contextualizar o ambiente em que os bancos operaram. No Brasil, o terceiro trimestre de 2023 foi marcado por:

  • Taxa Selic em patamares elevados: Apesar dos primeiros cortes, a taxa básica de juros permaneceu alta na maior parte do período, beneficiando a margem financeira dos bancos (spread bancário), especialmente em operações de crédito.

  • Contenção da Inflação: Houve uma desaceleração da inflação, o que, embora positivo para a economia, pode impactar o volume de crédito ao reduzir a necessidade de financiamento de curto prazo.

  • Mercado de Crédito Seletivo: A inadimplência, embora com sinais de estabilização, ainda é uma preocupação, levando os bancos a adotarem uma postura mais cautelosa na concessão de crédito, focando em linhas de menor risco.

  • Crescimento Econômico Moderado: O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou crescimento, o que gera demanda por serviços bancários, mas o ritmo ainda não é de pleno vigor.

Internacionalmente, a persistência da inflação em economias desenvolvidas e a atuação dos bancos centrais globais também influenciaram o sentimento do mercado e o custo de captação dos bancos.

Os Campeões de Lucros Positivos no 3T

 

Ao analisar os balanços dos maiores bancos brasileiros – geralmente representados por Itaú Unibanco, Bradesco, Santander Brasil e Banco do Brasil – observamos tendências e destaques que revelam quem conseguiu navegar melhor por este ambiente. É importante notar que “lucros positivos” é a meta de qualquer empresa, mas aqui nos referimos àqueles que superaram as expectativas ou apresentaram um crescimento expressivo em relação a períodos anteriores ou à concorrência.

Embora os números exatos e a ordem de grandeza possam variar ligeiramente a cada divulgação, uma análise geral dos comunicados e relatórios de mercado aponta para um desempenho robusto de alguns players.

1. Itaú Unibanco: A Liderança Consolidada

O Itaú frequentemente se destaca como o banco mais lucrativo do país, e o 3T de 2023 não foi exceção. Sua performance geralmente é impulsionada por uma combinação de fatores:

  • Margem Financeira Forte: A gestão eficiente do spread bancário e a composição da carteira de crédito com menor risco e maior rentabilidade contribuem significativamente.

  • Controle de Custos: O Itaú é conhecido por sua disciplina na gestão de despesas operacionais, o que amplifica a rentabilidade.

  • Diversificação de Receitas: Além do crédito, o banco possui forte atuação em serviços como seguros, gestão de ativos e cartões, que geram receitas consistentes.

  • Qualidade da Carteira de Crédito: Uma política de concessão de crédito mais conservadora tende a resultar em menores provisões para devedores duvidosos (PDD) em comparação com alguns concorrentes, impactando positivamente o lucro líquido.

  • Inovação e Digitalização: Investimentos contínuos em tecnologia e plataformas digitais garantem eficiência e aprimoram a experiência do cliente, atraindo e retendo uma base mais ampla.

O Itaú demonstra consistentemente a capacidade de entregar resultados sólidos mesmo em cenários desafiadores, consolidando sua posição como um “campeão” de lucros.

2. Banco do Brasil: A Força do Agronegócio e Consistência Pública

O Banco do Brasil (BB) tem surpreendido positivamente o mercado em diversos trimestres recentes, e o 3T de 2023 provavelmente manterá essa tendência. Seus diferenciais incluem:

  • Foco no Agronegócio: O BB é o maior financiador do agronegócio no Brasil. Com o setor em alta nos últimos anos, essa carteira se tornou um motor poderoso de crescimento e lucratividade, com menor risco de inadimplência em comparação com outros segmentos.

  • Base de Clientes Sólida: Possui uma vasta base de clientes, especialmente no segmento público e de pequenas e médias empresas, garantindo estabilidade nas receitas.

  • Controle de Custos: Assim como o Itaú, o BB tem demonstrado boa gestão de despesas, otimizando sua estrutura operacional.

  • Menor Exposição a Crises de Crédito: Por ter uma parte significativa de sua carteira vinculada a setores mais resilientes e a operações com garantias, o BB tende a ter um PDD mais controlado.

A combinação de sua atuação estratégica no agronegócio e a eficiência de sua gestão o posicionam como um forte competidor na corrida por lucros expressivos.

3. Santander Brasil: Recuperação e Crescimento Seletivo

O Santander Brasil, após alguns trimestres de maior volatilidade e provisões mais elevadas, tem mostrado sinais de recuperação e foco em crescimento mais seletivo e rentável.

  • Revisão da Carteira de Crédito: O banco tem trabalhado ativamente na melhoria da qualidade de sua carteira, buscando reduzir a inadimplência e focar em clientes com menor risco.

  • Digitalização e Eficiência: Investimentos em plataformas digitais e processos mais eficientes são cruciais para a redução de custos e atração de novos clientes.

  • Diversificação de Produtos: A expansão em áreas como seguros, consórcios e investimentos contribui para a diversificação das receitas e menor dependência do crédito tradicional.

  • Mercado de Capitais: A atuação no mercado de capitais pode gerar receitas significativas em períodos de maior dinamismo econômico.

Embora possa ter enfrentado mais desafios que os líderes, o Santander busca um crescimento mais sustentável e rentável, com potencial para apresentar resultados positivos e surpreender o mercado.

4. Bradesco: Desafios e Reestruturação em Curso

O Bradesco, tradicionalmente um dos maiores e mais lucrativos bancos, tem enfrentado alguns desafios nos últimos trimestres, principalmente relacionados à inadimplência e à necessidade de reestruturação.

  • Inadimplência Elevada: O banco tem sido um dos mais afetados pelo aumento da inadimplência em certas carteiras, exigindo maiores provisões para devedores duvidosos, o que impacta o lucro líquido.

  • Transformação Digital: O Bradesco está em um processo intenso de transformação digital e otimização de sua rede física, o que gera custos no curto prazo, mas visa maior eficiência e competitividade no longo prazo.

  • Necessidade de Recomposição da Rentabilidade: O foco tem sido em recompor a rentabilidade através de uma gestão mais rigorosa do risco de crédito e da eficiência operacional.

Para o 3T de 2023, o Bradesco busca consolidar a melhora na qualidade de ativos e na rentabilidade, mas pode ainda estar em um estágio de recuperação em comparação com seus pares mais fortes. Os resultados positivos, embora presentes, podem ser mais modestos em termos de crescimento em relação aos outros campeões.

Fatores Chave para o Sucesso no 3T

 

Além das particularidades de cada banco, alguns fatores gerais contribuíram para o bom desempenho dos campeões de lucros:

  • Gestão de Risco de Crédito: Em um ambiente de juros altos e incertezas, a capacidade de conceder crédito de forma seletiva e gerenciar eficientemente o risco de inadimplência foi crucial. Bancos com políticas mais conservadoras ou carteiras mais resilientes se destacaram.

  • Controle de Custos e Eficiência Operacional: A disciplina na gestão de despesas, otimização de processos e investimentos em tecnologia para automatização foram diferenciais importantes para proteger as margens.

  • Diversificação de Receitas: A dependência menor da margem de crédito tradicional, com fontes de receita robustas em serviços (seguros, asset management, cartões, consultoria), garantiu maior estabilidade e crescimento.

  • Digitalização e Experiência do Cliente: Bancos que souberam investir em plataformas digitais intuitivas e eficientes, oferecendo uma boa experiência ao cliente, conseguiram expandir sua base e reduzir custos de atendimento.

  • Juros Altos (em partes): Embora desafiador para alguns setores, o cenário de juros altos beneficiou o spread bancário e a rentabilidade sobre o capital próprio dos bancos, que conseguem repassar os custos para o cliente final.

O Futuro e os Desafios Adiante

 

Olhando para o futuro, os bancos continuarão a enfrentar desafios. A queda gradual da taxa Selic pode pressionar as margens de crédito, exigindo uma busca ainda maior por eficiência e novas fontes de receita. A concorrência das fintechs e bancos digitais continua intensa, forçando os incumbentes a inovar e aprimorar seus serviços. A questão da inadimplência, embora estabilizada, permanece no radar.

Contudo, os “campeões” de lucros do 3T demonstram que, com uma gestão estratégica, foco em risco, eficiência e inovação, é possível prosperar mesmo em ambientes complexos. Eles não apenas geram valor para seus acionistas, mas também desempenham um papel vital na intermediação financeira, impulsionando o crédito e o investimento necessários para o crescimento da economia. A capacidade de se adaptar, inovar e manter uma disciplina rigorosa na gestão de risco e custos continuará a ser o diferencial para que esses gigantes financeiros continuem a brilhar nos próximos trimestres.

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